"Desemprego provoca violência e põe em causa democracia"

Gonçalo M. Tavares não gosta de dar entrevistas, com a desculpa de que o retiram do seu espaço de concentração. Não é uma desculpa, corrija-se, é antes a verdade de um escritor que difere da maioria dos seus colegas, ao exigir o total isolamento enquanto cumpre o horário de um dia de trabalho literário.
Publicado a
Atualizado a

O mundo, no entanto, não quer aceitar essa característica pessoal e dá-lhe prémios e distinções aos montes para o pôr fora de portas. Designam-no como o próximo candidato ao Nobel da Língua Portu-guesa quando a marca de José Saramago desaparecer das quotas da Academia Sueca; os editores lutam para publicar os seus livros; os prémios literários distinguem-no - nacional e internacionalmente - como uma rotina; os leitores do planeta vão descobrindo os seus livros em dezenas de traduções...

Mas Gonçalo M. Tavares quer o seu sossego e mantém-se teimosamente longe do estatuto de famoso a troco da sua escrita diferida entre a concepção e a publicação. Quer que o seu percurso dependa da lentidão e da paciência, do esforço e da intuição. Quanto aos prémios, confessa que são para os livros e que essa forma de lhes dar atenção é "simpática", mas não abdica de uma distância muito grande em relação a esses acontecimentos. Não há dia em que se sinta mais satisfeito do que aquele em que escreve muitas páginas. É assim que o escritor se protege e garante que não vai criar algo só porque há uma expectativa em relação a si.

Por essa razão, aposta que "o importante tem a ver com sentir que estou a fazer o meu itinerário e que ele é completamente livre". Ouve o que acontece à sua volta e está atento, mas o seu percurso e o que quer fazer será, não prescinde, "sempre parte de uma vontade individual".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt